Olá Bereanos, neste post vamos explorar à luz da Bíblia, se é considerado pecado para um cristão manter cabelos compridos.
Será que um cristão pode optar por ter cabelos compridos? Não há indicação na Bíblia de que um homem usar cabelo comprido seja motivo de punição ou resulte na perda da salvação, nem que seja pecado. No entanto, ela expressa que é considerado desonroso. Nós lemos isso em:
(1 Coríntios 11:14) Não lhes ensina a própria natureza que ter cabelo comprido é uma desonra para o homem,
Naquela época, havia uma associação entre cabelos longos e feminilidade, enquanto os cabelos curtos eram mais relacionados à masculinidade, e essa tradição cultural se perpetuou até os tempos atuais, embora de fato o comprimento dos cabelos não indicam feminilidade e nem masculinidade.
É importante ressaltar que esta passagem apresenta certa complexidade. Porém a interpretação dessa passagem pode variar entre os estudiosos e teólogos. Alguns entendem que Paulo está se referindo às normas culturais da sociedade em que vivia, a fim de instruir os cristãos de Corinto a evitarem práticas que pudessem causar confusão ou escândalo entre os não-cristãos. Outros interpretam essa passagem como uma instrução específica para aquela comunidade em particular, sem necessariamente aplicar-se universalmente. Paulo pode ter empregado a questão do cabelo comprido como um recurso ilustrativo para elucidar o papel distinto do homem e da mulher, assim como a função do véu, não necessariamente como uma norma incontestável da igreja. No entanto, devemos evitar adotar uma postura dogmática em relação às nossas interpretações.
De qualquer forma, Paulo está argumentando que, de acordo com as normas culturais daquela sociedade, um homem com cabelo comprido é desonroso.
No versículo 16 Paulo diz:
(1 Coríntios 11:16) No entanto, se alguém quiser argumentar a favor de outro costume, não temos outro, nem o têm as congregações de Deus.
Este versículo, é a conclusão de Paulo para o tema que ele estava discutindo no capítulo 11 sobre a conduta durante as reuniões da igreja em Corinto, especificamente sobre questões como cobrir a cabeça durante a oração e a questão do cabelo.
A frase “se alguém quiser argumentar a favor de outro costume” indica que havia discordâncias ou diferentes práticas dentro da comunidade cristã em Corinto em relação a essas questões específicas. Paulo está reconhecendo que pode haver opiniões divergentes ou costumes alternativos sobre essas práticas. No entanto, ele conclui afirmando que “não temos outro costume, nem o têm as congregações de Deus”, indicando a importância de manter a unidade e a consistência nas práticas dentro das congregações cristãs, seguindo as orientações que ele está dando na carta.
Entretanto, há uma sugestão de que o cabelo de comprimento considerado desonroso para os homens, conforme mencionado por Paulo, se estendia até a cintura, assemelhando-se ao cabelo das mulheres, uma vez que é possível que ele mesmo mantivesse o cabelo até os ombros. Referências sobre os cabelos de Paulo podem ser encontradas em Atos 18:18.
(Atos 18:18) Mas δέ Paulo Παῦλος, havendo permanecido προσμένω ali ainda ἔτι muitos ἱκανός dias ἡμέρα, por fim, despedindo-se ἀποτάσσομαι dos irmãos ἀδελφός, navegou ἐκπλέω para εἰς a Síria Συρία, levando em σύν sua companhia αὐτός Priscila Πρίσκιλλα e καί Áquila Ἀκύλας, depois de ter raspado κείρω a cabeça κεφαλή em ἔν Cencréia Κεγχρεαί, porque γάρ tomara ἔχω voto εὐχή.
A palavra vertida como “raspar” é κείρω keírō e seu significado varia entre tosquiar, tosar ou cortar curto o cabelo. Se Paulo estava cortando o cabelo de maneira mais curta, é plausível que o comprimento original de seu cabelo fosse considerável, possivelmente chegando até os ombros. No entanto, as escrituras não fornecem detalhes específicos sobre o comprimento exato. O fato de ele sentir a necessidade de cortar sugere que seu cabelo era substancial o suficiente para requerer esse procedimento. Assim, é razoável inferir que ele mantinha cabelos longos para os padrões contemporâneos atuais.
Costumes não representam dogmas incontestáveis e podem variar conforme a cultura e o contexto histórico de uma sociedade. Paulo aborda a questão da desonra associada ao comprimento do cabelo, não sua categorização como pecado, isso é evidenciado pelo fato de que ele expressa a afirmação na forma de uma pergunta. Além disso, não há outra passagem nas Escrituras gregas que estipule um padrão específico de comprimento de cabelos. Portanto, embora seja considerado desonroso, ou seja, vergonhoso, não é considerado um pecado. Essa conclusão pode parecer excêntrica, porém é racional, especialmente considerando que não lemos algo como “os cabeludos não herdarão o reino dos céus”. Além do mais, no passado, Deus permitiu explicitamente que indivíduos que fizessem votos a Ele não cortassem o cabelo. Referências sobre esse assunto podem ser encontradas em:
(Números 6:1-5) Jeová falou mais a Moisés: 2 “Diga aos israelitas: ‘Se um homem ou uma mulher fizer um voto especial de viver como nazireu para Jeová, 3 deve se manter afastado de vinho e de outras bebidas alcoólicas. Não deve beber vinagre de vinho nem vinagre de nada alcoólico. Não deve tomar nenhuma bebida feita de uva, nem comer uvas, quer frescas quer secas. 4 Não deve comer nenhum produto da videira, desde as uvas verdes até as cascas, durante todos os dias do seu nazireado. 5 “‘Não se deve passar navalha na sua cabeça durante todos os dias do voto do seu nazireado. Ele deve permanecer santo, deixando o cabelo crescer até terminarem os dias em que estiver separado para Jeová.
Neste versículo, observamos o próprio Jeová se expressando. Mas levantando a questão, como Deus aceitaria o voto de um nazireu se fosse considerado pecaminoso para um homem ter cabelo comprido? O versículo 5 enfatiza que o nazireu deve manter-se santificado, permitindo que seu cabelo cresça livremente durante todo o período de sua separação para Jeová. Também existe uma coerência moral entre o que é pecado nas escrituras hebraicas e gregas, e com base no princípio de que o pecado, conforme descrito em Isaías 59:2, leva à separação de Deus, se o cabelo comprido fosse considerado um pecado, por que Deus permitiria que alguém consagrado a Ele adotasse essa prática? Será que Deus exigiria que alguém cometesse um pecado, ou, por assim dizer, uma transgressão parcial, para ser consagrado e santo a Ele?
Se afirmarmos que é pecado, podemos estar contradizendo os relatos anteriores sobre a santidade de Jeová, pois como um comportamento antes considerado um ato de santidade poderia subitamente se tornar uma transgressão moral? A Bíblia indica que é considerado desonroso, porém também registra que era uma prática de consagração expressa pelo próprio Deus. Como reconciliar essas duas perspectivas?
Havia homens que optavam por cabelos longos por motivos de vaidade evidente, conforme registrado em:
(2 Samuel 14:25, 26) Em todo o Israel não havia homem que fosse tão elogiado por sua beleza quanto Absalão. Da cabeça aos pés, ele era sem defeito. 26 Quando cortava o cabelo (ele tinha de fazer isso no final de cada ano, porque ficava muito pesado), este pesava 200 siclos, segundo o peso real de pedra.
Absalão, filho de Davi, cortava seu cabelo anualmente, e o peso resultante era de 200 siclos, aproximadamente equivalente a 2,3 kg. Para alcançar esse peso, é necessário ter um cabelo de comprimento considerável.
Acredito que a questão já tenha sido respondida até este ponto, mas podemos nos indagar sobre o potencial de escandalizar a igreja ou fazer outros tropeçarem. Primeiramente, é importante entender o conceito de causar escândalo ou ser uma pedra de tropeço. Biblicamente, há diversos textos que abordam esse tema. Vamos examinar alguns deles. Iniciemos com:
(Mateus 16:23) Mas δέ Jesus, voltando-se στρέφω , disse ἔπω a Pedro Πέτρος: Arreda ὑπάγω ὀπίσω μοῦ, Satanás Σατανᾶς! Tu εἶ és ὅτι para mim μοῦ pedra de tropeço σκάνδαλον, porque não οὐ cogitas φρονέω das coisas ὁ de Deus θεός, e sim ἀλλά das dos homens ἄνθρωπος.
Neste texto Jesus diz a Pedro que ele é uma “pedra de tropeço”, e é a tradução da palavra σκάνδαλον skándalon, que significa:armadilha, cilada, qualquer impedimento colocado no caminho e que faz alguém tropeçar ou cair, (pedra de tropeço, ocasião de tropeço) i.e., pedra que é causa de tropeço, qualquer pessoa ou coisa pela qual alguém (torna-se presa) afoga-se no erro ou pecado.
Pedro estava se tornando uma fonte de obstáculo para Jesus, conforme indicado no versículo 21, onde ele expressa que Jesus deveria enfrentar adversidades pelas mãos dos anciãos, sacerdotes e escribas, incluindo sua própria morte. No versículo 22, Pedro expressa sua preocupação, sugerindo que Jesus deveria evitar tal destino para evitar sofrimento. No entanto, isso iria contra o propósito de Jesus, que veio justamente para cumprir esse destino e proporcionar a redenção da humanidade. Assim, ao tentar dissuadir Jesus de seguir seu caminho, Pedro se torna uma “Pedra de tropeço” para a missão de Jesus. Apesar de ser mais confortável adiar o momento da morte, era necessário que isso ocorresse naquele momento, caso contrário, Jesus estaria falhando em cumprir sua missão.
A partir deste contexto, podemos inferir que ser uma “pedra de tropeço” implica em cometer transgressões contra as leis divinas e induzir outras pessoas a cometerem pecados. Vamos examinar outro texto para aprofundar essa compreensão:
(1 Coríntios 1:23) mas δέ nós ἡμεῖς pregamos κηρύσσω a Cristo Χριστός crucificado σταυρόω , escândalo μέν σκάνδαλον para os judeus Ἰουδαῖος, loucura μωρία para os gentios Ἕλλην;
Novamente, encontramos a palavra grega σκάνδαλον (skándalon), traduzida como “escândalo” em vez de “pedra de tropeço”. Ambos os termos são equivalentes e poderiam ser usados indistintamente. Neste contexto, Paulo menciona que pregar a mensagem do Cristo crucificado era considerado um “escândalo” ou “pedra de tropeço” tanto para os judeus quanto para os gregos, ou gentios.
Isso nos revela que mesmo ao proclamarmos a verdade ou praticarmos o que é correto, ainda assim podemos influenciar outros a tropeçarem. Essa ideia é corroborada por Jesus em:
(Mateus 18:7) “Ai do mundo por causa das suas pedras de tropeço! Claro, é inevitável que venham as pedras de tropeço, mas ai do homem por meio de quem vem a pedra de tropeço!
Neste trecho, Jesus destaca a seriedade de ser uma pedra de tropeço e indica que é uma ocorrência inevitável. Outro texto complementar é:
(Mateus 11:6) E καί bem-aventurado μακάριος é ἐστί aquele que ὅς não ἐάν μή achar σκανδαλίζω em ἔν mim ἐμοί motivo de tropeço σκανδαλίζω .
Neste texto, foi empregada a palavra grega σκανδαλίζω (skandalízō), embora não seja especialista em grego, aparenta ser uma variação da palavra σκάνδαλον (skándalon). Com isso até mesmo Jesus confirma a possibilidade de ele influenciar alguém a tropeçar, como indicado por sua declaração de que é bem-aventurado aquele que não se escandaliza por causa dele.
Vamos agora analisar mais um texto que nos ajudará a compreender o conceito de escandalização na igreja em questão. Leiamos:
(1 Coríntios 8:9-13) Tomem cuidado, porém, para que o seu direito de escolha não se torne de algum modo uma pedra de tropeço para os que são fracos. 10 Pois, se alguém vir você, que tem conhecimento, tomando uma refeição no templo de um ídolo, será que a consciência daquele que é fraco não ficará ousada a ponto de ele comer alimentos oferecidos a ídolos? 11 Assim, pelo conhecimento que você tem, está sendo arruinado aquele que é fraco, seu irmão pelo qual Cristo morreu. 12 Quando vocês pecam assim contra os seus irmãos e ferem a consciência fraca deles, estão pecando contra Cristo. 13 É por isso que, se o alimento fizer o meu irmão tropeçar, nunca mais comerei carne alguma, para que eu não faça o meu irmão tropeçar.
Neste contexto, a terminologia “pedra de tropeço” é empregada para descrever os cristãos que, por diferentes razões, podem se tornar um entrave ou uma fonte de dificuldade para os irmãos menos firmes na fé. Isso significa que, ao exercerem sua liberdade baseada em uma compreensão mais profunda dos ensinamentos de Cristo, alguns cristãos podem inadvertidamente ferir e ofender aqueles que ainda não alcançaram essa mesma compreensão profunda de liberdade.
No caso abordado na carta aos coríntios, trata-se do ato de consumir carne dentro de um templo onde eram realizados rituais de sacrifício de animais para ídolos. Entretanto, é importante destacar que a carne em si não foi sacrificada a um ídolo; apenas o local onde a pessoa estava consumindo a carne era destinado a tais sacrifícios. Porém isso poderia levar alguém sem conhecimento a consumir carne proveniente de animais sacrificados aos ídolos, e esse era o pecado e não o consumo de carne em si.
A questão abordada é a possibilidade de alguém interpretar erroneamente as ações de outra pessoa como um ato pecaminoso, levando-os a praticar um pecado por falta de entendimento, mesmo que não haja pecado real envolvido.
Porém o desafio reside no fato de que qualquer ação pode ser interpretada como motivo para causar tropeço, seja agindo corretamente ou incorretamente. Por exemplo, críticas podem surgir por escolhas como o uso de gravata borboleta ou batom preto. Frequentemente, a falta de conhecimento e compreensão leva indivíduos a basearem suas opiniões em suposições pessoais, em vez de considerar o que é ensinado na Bíblia. Essa dinâmica é potencialmente perigosa, pois pode desviar as pessoas do verdadeiro entendimento da fé.
Acredito que cada indivíduo deve discernir as expectativas divinas independentemente da orientação de um pastor ou liderança religiosa. Embora possamos considerar certas práticas como costumes da igreja, como observado anteriormente, não podemos rotulá-las como pecaminosas, pois eram consideradas práticas de santidade, não sendo, portanto, motivo para escândalo. Jesus disse:
(João 7:24) Parem de julgar pelas aparências, mas façam um julgamento justo.”
Então, qual é o potencial de escandalizar os outros com o cabelo comprido? Qual mensagem o comprimento do cabelo transmite sobre o caráter ou a espiritualidade de um cristão? Por que o cabelo de outra pessoa te incomoda? Como o cabelo de alguém pode te levar a tropeçar? É importante compreender que não devemos julgar os outros com base em sua aparência, uma vez que a aparência não define o caráter nem espiritualidade. Essa verdade é profunda. A aparência de outras pessoas não deveria nos perturbar ou ser motivo para condenação, quando dizemos que o homem usar cabelo comprido é pecado estaremos julgando pelas aparências, condenando alguém pelo comprimento do cabelo.
O problema reside na idealização de que um indivíduo civilizado e de boas maneiras deve ter barba e cabelo curto. Infelizmente, isso leva as pessoas a se concentrarem apenas na aparência, preocupando-se mais em parecer civilizadas do que em ser verdadeiramente civilizadas. Em vez de ensinar valores morais, muitas vezes ensina-se apenas uma aparência moral, em vez de ser um exemplo real.
Este é um princípio fundamental e claro, não requer uma análise profunda do evangelho e das escrituras para ser compreendido. A questão reside no fato de que, ao conhecermos a palavra de Deus e cultivarmos uma espiritualidade fundamentada na verdade, não tropeçaremos, embora reconheçamos que alguns indivíduos que ainda não possuem um conhecimento mais aprofundado podem vir a tropeçar. Contudo, esse é um conhecimento básico e essencial. Não é correto afirmar que não estamos condenando pela aparência quando declaramos que é pecaminoso para um homem ter cabelo comprido, uma vez que o indivíduo estará tropeçando ao transgredir esse princípio de não julgar pelas aparências, devido à falta de um conhecimento básico ou até mesmo por ignorância a esse versículo. É similar a observar alguém consumindo vinho, rotulando tal ato como pecado porque o cristão não pode correr risco de se embriagar e tropeçar por isso, quando na verdade Jesus consumiu vinho e tal bebida faz parte do ritual da santa ceia, então na verdade estará tropeçando por estar pecando.
Quando temos um entendimento da palavra de Deus e cultivamos espiritualidade, reconhecemos que nossa aparência não é o aspecto mais relevante, pois Deus avalia o coração. Este conceito é embasado em:
(1 Samuel 16:7) Jeová, contudo, disse a Samuel: “Não considere sua aparência nem sua altura, pois eu o rejeitei. Jeová não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração”
(1 Pedro 3:3, 4) Que o seu adorno não sejam as coisas externas — cabelos trançados, o uso de enfeites de ouro ou de roupas finas — 4 mas seja a pessoa secreta do coração com o adorno imperecível do espírito calmo e brando, que é de grande valor aos olhos de Deus.
A Bíblia consistentemente enfatiza que Deus valoriza o conteúdo do coração mais do que a aparência externa, uma vez que esta última é perceptível para nós, enquanto Deus avalia o caráter e a essência íntima do indivíduo. É crucial recordar que o amor de Deus são incondicionais, independentemente do comprimento do cabelo ou de qualquer outra característica física. Devemos persistir em buscar agradar a Deus, independentemente do comprimento do nosso cabelo ou de quaisquer outras características físicas.
Este foi mais um estudo. Gostaria de receber seu feedback sobre este vídeo. Você acredita que é um pecado? Se sim, por quê? Há alguma base bíblica para suas afirmações? Gostaria de ler e aprender mais sobre o assunto, pois estou aberto a uma possível interpretação mais coerente. Se alguém desejar, pode compartilhar seus comentários abaixo. Nos vemos no próximo vídeo.
Referências:
http://dc.golgota.org/contradicoes/numeros/numeros03.html
http://abibliarespondeonline.blogspot.com/2018/06/o-homem-cristao-pode-ter-cabelo-comprido.html
https://www.gotquestions.org/Portugues/pedra-de-tropeco.html
http://ocristianismoemfoco.blogspot.com/2015/09/homem-pode-ter-barba-e-cabelo-comprido.html
Deixe um comentário